sábado, 17 de novembro de 2007

Série de entrevistas - MV BILL - Parte II

Esta é a segunda parte da entrtervista realizada com o rapper MV Bill, que tem a primeira parte no post anterior.

Blog: Se o poder público se fizesse presente na favela, urbanizasse, colocasse escola, posto de saúde, etc, os traficantes perderiam o poder? Teria ainda espaço para isso?

MV Bill: Acho que o tráfico de drogas não vai acabar nunca. A gente seria ingênuo achar isso. Tem países de primeiro mundo que o tráfico está lá instalado, nas mãos de pessoas parecidas as que detém o trafico aqui. Mas acho que uma intervenção diminuiria. Pelo menos para dar ao jovem uma opção. Ele poderia escolher entre ficar no crime e se desenvolver normalmente, com opções de ascensão. Agora, com o quadro que tem, o tráfico acaba sendo uma grande opção pra quem nasce onde não tem possibilidade. É isso que está acontecendo, ainda que a maioria dos jovens não entre para o trafico. Até porque o trafico não tem espaço pra todo mundo.

Blog: O trafico tem espaço pra quem? Quem fica fora desse processo?

MV Bill: Eu me deparei com algumas situações, situações de morte, de tiro, que são muito chocantes. No próximo livro que a gente está fazendo, "Céus", é sobre as mulheres que a gente conheceu nessa vida. Uma das historias é de uma menina de 16 anos, grávida, com o marido também muito jovem. Eu estava me despedindo de um traficante com quem eu conversei e ela chega, interrompe a conversa e pergunta pro gerente da boca de fumo se tem uma vaga pro marido dela. Que eles estava prestes a ser pai que não estava conseguindo arrumar emprego. O gerente disse que não tinha vaga naquele momento, mas que assim que tivesse ele mandaria chamar. Pô, eles foram embora abraçados e felizes, cara! Porque teria uma vaga! Sabe o que é ter uma vaga pro marido dela? É a morte de alguém acontecer. Eu fiquei pensando que ela poderia ir pra casa com o marido dela torcendo pra alguém ser preso ou morrer pra abrir a vaga pro marido dela. Essa foi uma das situações que mais me chocou.

Blog: Tu acreditas que a legalização das drogas diminuiria esse poder?

MV Bill: Acho que esse assunto merece muita discussão, não acho correto alguém ser pego com uma qtde pequena de drogas, seja qual for, e ser misturado a gente de barra mais pesada. E ao mesmo tempo não acredito que as drogas legalizadas sirvam como diagnóstico para diminuir ou acabar com a violência. Porque em todos lugares, inclusive Porto Alegre, os jovens da favela não entram pro trafico por causa do vício ou por causa das drogas, como os playboys. "Ah, ta viciado, vai se envolver com o tráfico"... não é assim. A maioria entra pela busca, busca pela sobrevivência e pelo dinheiro. Se as drogas forem legalizadas, essa busca vai continuar. O crime vai migrar do tráfico para outras coisas.

2 comentários:

Lucemberg disse...

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e divulgue seu blog.

Unknown disse...

Natália Pianegonda,
Preciso falar com voce, mas todos os E-mail que te enviei foram devolvidos.