sábado, 17 de novembro de 2007

Série de entrevistas - MV BILL - Parte II

Esta é a segunda parte da entrtervista realizada com o rapper MV Bill, que tem a primeira parte no post anterior.

Blog: Se o poder público se fizesse presente na favela, urbanizasse, colocasse escola, posto de saúde, etc, os traficantes perderiam o poder? Teria ainda espaço para isso?

MV Bill: Acho que o tráfico de drogas não vai acabar nunca. A gente seria ingênuo achar isso. Tem países de primeiro mundo que o tráfico está lá instalado, nas mãos de pessoas parecidas as que detém o trafico aqui. Mas acho que uma intervenção diminuiria. Pelo menos para dar ao jovem uma opção. Ele poderia escolher entre ficar no crime e se desenvolver normalmente, com opções de ascensão. Agora, com o quadro que tem, o tráfico acaba sendo uma grande opção pra quem nasce onde não tem possibilidade. É isso que está acontecendo, ainda que a maioria dos jovens não entre para o trafico. Até porque o trafico não tem espaço pra todo mundo.

Blog: O trafico tem espaço pra quem? Quem fica fora desse processo?

MV Bill: Eu me deparei com algumas situações, situações de morte, de tiro, que são muito chocantes. No próximo livro que a gente está fazendo, "Céus", é sobre as mulheres que a gente conheceu nessa vida. Uma das historias é de uma menina de 16 anos, grávida, com o marido também muito jovem. Eu estava me despedindo de um traficante com quem eu conversei e ela chega, interrompe a conversa e pergunta pro gerente da boca de fumo se tem uma vaga pro marido dela. Que eles estava prestes a ser pai que não estava conseguindo arrumar emprego. O gerente disse que não tinha vaga naquele momento, mas que assim que tivesse ele mandaria chamar. Pô, eles foram embora abraçados e felizes, cara! Porque teria uma vaga! Sabe o que é ter uma vaga pro marido dela? É a morte de alguém acontecer. Eu fiquei pensando que ela poderia ir pra casa com o marido dela torcendo pra alguém ser preso ou morrer pra abrir a vaga pro marido dela. Essa foi uma das situações que mais me chocou.

Blog: Tu acreditas que a legalização das drogas diminuiria esse poder?

MV Bill: Acho que esse assunto merece muita discussão, não acho correto alguém ser pego com uma qtde pequena de drogas, seja qual for, e ser misturado a gente de barra mais pesada. E ao mesmo tempo não acredito que as drogas legalizadas sirvam como diagnóstico para diminuir ou acabar com a violência. Porque em todos lugares, inclusive Porto Alegre, os jovens da favela não entram pro trafico por causa do vício ou por causa das drogas, como os playboys. "Ah, ta viciado, vai se envolver com o tráfico"... não é assim. A maioria entra pela busca, busca pela sobrevivência e pelo dinheiro. Se as drogas forem legalizadas, essa busca vai continuar. O crime vai migrar do tráfico para outras coisas.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Série de entrevistas - Parte II: MV Bill

Esta é a primeira parte da entrevista realizada com o rapper MV Bill. Autor do livro e do documentário "Falcão - Meninos do Tráfico", ele conversou sobre o envolvimento das crianças com o tráfico de drogas. O músico, que também participou da criação da Central Única das Favelas, também esteve nas periferias da capital gaúcha para realizar o documentário e alerta que, embora se pense que essa realidade ainda não chegou ao Rio Grande do Sul, meninos trabalham para traficantes também por aqui.

Blog: Com se dá o envolvimento dessas crianças com o tráfico de drogas?

MV Bill: Olha, no Brasil inteiro, inclusive ali em Porto Alegre, eu percebi que as causas são muito parecidas. Os filhos das favelas, na maioria das vezes, quando chegam a entrar pro trafico, eles não têm estrutura familiar. Os meninos que aparecem no documentário, inclusive aqueles ai de Porto Alegre, a maioria não conheceu o pai, ou o pai abandonou a família muito cedo. Esse jovem, mesmo sendo menor de idade, quando ele ainda é uma criança, ele passa a ser o chefe da família. Se ele não tem uma estrutura, o tráfico de drogas acaba estando de braços abertos para recebê-lo. Há uma grande estrutura que, na realidade, a gente, eu digo, a gente a sociedade, temos trabalhado de forma errônea. Trabalhamos somente nas conseqüências. O "Falcão" deixa bem claro quais são as causas. E trabalhando as causas a gente tem resultados bem mais positivos.

Blog: E onde é que estão os erros? Quer dizer, sabemos que tem toda essa problemática de falta de estrutura familiar, o problema do desemprego, toda essa questão social. Mas onde exatamente está esse erro e será que isso tudo tem solução?

MV Bill: A solução eu continuo acreditando que é possível. Só que eu não vejo algo de imediato. As soluções vêm a médio ou longo prazo. Mas para isso tem que iniciar por partes e já. Mas isso ainda não aconteceu. Existem organizações, trabalhos individuais, prefeituras que dispõem suas secretarias e que estão um pouco mais voltadas para esse lado. Mas o Brasil, como um todo, ainda não engrenou, ainda está apático. Não se mobilizou nem se comoveu da forma como deveria.

Blog: Tanto o cidadão como o poder público... Como a gente pode dar a dimensão do problema que é o fato de as pessoas não estarem preocupadas, ou suficientemente preocupadas, com o envolvimento dos garotos com o tráfico de drogas?

MV Bill: Bom, quando saiu o documentário, a primeira entrevista que eu fiz ai no Rio Grande do Sul com um jornalista, ele estava indignado porque um amigo dele jornalista, ao vere o documentário, comentou com ele assim: "Poxa, você viu? Os traficantes do Rio de Janeiro estão usando camiseta do Inter e tomando chimarrão". Porque na cabeça dele, ele já está preparado, para imaginar que aquela realidade é uma realidade do Rio ou de São Paulo, no máximo. Ele não imagina, ou prefere não entender, que aquela realidade está do lado dele também. Embora a ocorrência esteja menos extensiva, com material bélico seja menos pesado. Mas isso não faz do problema menos grave. A gente quer tentar fazer alguma coisa agora pra Porto Alegre não ter que usar a mesma metodologia errada que está sendo aplicada em São Paulo e no Rio de Janeiro. Porque é melhor entrar, não somente com a força da polícia, com mais armas, mais violência, mas com um aparato social. Se houvesse uma grande intervenção desse modo, isso poderia mudar. Porque Porto Alegre é uma das capitais mais ricas do país, com pessoas mais esclarecidas. Acho que daria pra dar uma equilibrada.

Blog: O que tu viste em Porto Alegre?

MV Bill: Eu vi algumas diferenças nos tipos de drogas, de armas, de organização de quadrilha. Mas as coisas que mais me chamaram a atenção foram as semelhanças, de ter estrutura social muito parecida. Mas Porto Alegre também tem algumas diferenças marcantes, por exemplo, de ter mais jovens de pele de cor clara envolvidos com crimes, se comparado com outras capitais. Mas o problema é grave do mesmo jeito. Mas quando olho pra Porto Alegre, consigo enxergar uma solução. E que não vai ser a partir de mim. Vai ser a partir de quem tem o poder na mão fazer alguma coisa.

[continua... na próxima semana será publicada a segunda parte da entrevista]

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Série de entrevistas - Parte I

Diretor do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc), Álvaro Sataigleder

(explicações sobre o teor da entrevista estão no post anterior)

Blog: Qual o tipo de entorpecente que tem sido mais apreendido e mais consumido em Porto Alegre?

Del. Álvaro Staigleder: A substância que está predominando no usuário de droga é o crack. Isso é um fato que vem ocorrendo há algum tempo mas está se acelerando. Pra se ter uma idéia, em todo ano passado o Denarc [Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico] apreendeu cerca de 50kg de crack. Somente este ano nós já passamos de 80kg. Então isso reflete a mudança do consumo, está migrando da cocaína e da maconha para o crack. Porque o crack, aproximadamente quatro pedras já adquire vício e se torna usuário dependente. Temos usuário experimental, que usa uma vez pra conhecer; o ocasional, aquele que usa, por exemplo, em alguma festa; e aquele dependente. E o crack tem esse poder de tornar a pessoa dependente muito rápido. E, como qualquer outro tipo de droga, mesmo as lícitas, é muito difícil de abandonar.

Blog: Também é uma droga cara...

A.S.: Num primeiro momento parece barata. Uma pedra custa R$ 5. Ao passo que uma grama de cocaína, por exemplo, tu pagas de R$ 10 a R$ 30. Porque o custo é muito alto: o usuário pra fazer uso de dez pedras de crack num valor médio de R$ 50. Não é qualquer um que consegue manter esse vício. E o usuário de crack perde emprego e família. Então ele migra primeiro para edlitos leves, vende objetos pessoais e da família, pratica pequenos furtos para sustentar o vício. Depois pratica atos mais graves de violência, até contra o próprio corpo, como a prostituição, pra conseguir dinheiro. Então o custo social dele é muito alto.

Blog: E existe um perfil do usuário de drogas em Porto Alegre?

A.S.: Hoje o consumo da droga está disseminado. Nas classes mais altas o usuário já não entra, por exemplo, no crack. Porque, por mais esclarecimento, ele leva medo e também é percebido pela família mais cedo. Aí vai ter um efeito repressivo no sentido de ajuda-lo. O que tem entre essas classes é ecstasy e LSD, nessas festas rave, por exemplo. A maconha, que é uma droga depressora, é de outro momento, outras situações e já é até mais tolerável em algumas famílias. Os pais dizem que é uma fase. Mas é uma fase que pode complicar a vida da pessoa. Eu acho que não deve haver essa tolerância de aceitar que o filho use maconha.

Blog: O senhor acha que a legalização de drogas como a maconha reduzira índices de violência e criminalidade especialmente nesses pontos que são dominados pelo tráfico?

A.S.: Não, acho que não. Esses dias o vocalista de uma banda européia disse que a droga mais difícil de largar foi o cigarro, porque tem pra vender na esquina. A melhor forma de ajudar um usuário é dificultar o acesso. Eu sou totalmente contrário. Faz essa pergunta para pessoas que têm na família dependentes abusivos de qualquer tipo de drogas. Eles vão responder com muito mais propriedade, vão responder com o coração, porque eles têm esse problema dentro de casa. Eles são os profissionais pra responderem essa pergunta, eu sou um profissional de polícia, só.

Blog: E apreensões de maconha em Porto Alegre, é em grande quantidade?

A.S.: É usual. Em questão de uma semana o Denarc apreendeu 34kg de maconha. O uso é muito intenso de maconha. E veja bem, o que a gente ouve falar do usuário é que não dá nada. Dá sim. Deixa seqüelas pro resto da vida e, em alguns casos, a vida termina pelo envolvimento com outros tipos de delito. E a família se desestrutura. Nós temos uma certa hipocrisia de achar que nosso filho é só usuário. O outro é que é traficante. Nossos filhos são vítimas, coitados. Então acho que a gente tem que olhar um pouco pra dentro de casa. Não delegar a educação ao Estado ou a escola, seja ela pública ou particular.

Blog: Então, na sua avaliação, quem consome também financia a violência...

A.S.: Sem dúvida, o consumidor, quando compra um baseado e paga R$ 1, quando compra uma grama de cocaína por R$ 10, e inclusive gente de gravata doutor, pessoas de nível social e cultural muito alto, tem essa hipocrisia. Condenam a violência, mas fomentam essa criminalidade. Nós tiramos esse ano do mercado 80kg de crack. Isso nós estamos falando a bagatela, por baixo, de R$ 4 milhões. R$ 4 milhões que deixaram de reverter em mais drogas, em armamento pra quadrilhas. É dinheiro que sai da criminalidade. Sem hipocrisia: há tráfico porque nós consumimos drogas, a sociedade consome. Não há tráfico por filantropia ou ideologia. Há tráfico por mercado.

Série de entrevistas em POR TRÁS DAS GRADES

Motivados por um dos debates provocados a partir de “Tropa de Elite” (inclusive discutido em aula após os “ataques” – se assim eu posso chamar – entre o blogueiro d’O Globo Arnaldo Bloch e o ator Wagner Moura – sobre se o usuário de drogas é o cara de classe média e classe média alta e se é esse inclusive que financia o tráfico e a violência urbana), eu e um colega fomos tentar descobrir qual o perfil do usuário de drogas, em especial no Rio Grande do Sul. Se a legalização de alguns entorpecentes reduziria a violência e se quem utiliza alguma espécie de drogas acredita estar financiando o tráfico. Por isso, será publicada aqui, a cada semana, uma entrevista com alguém ligado diretamente a segurança pública ou ao próprio tráfico, além de usuários. A primeira é com o diretor do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico, delegado Álvaro Staigleder. Mas aguarde. Pela frente vem gente como MV Bill, o rapper autor do documentário “Falcão – Meninos do Tráfico”, e capitão Rodrigo Pimentel, ex-comandante do Bope do Rio de Janeiro e roteirista de “Bope - Tropa de Elite”.

sábado, 20 de outubro de 2007

Fortes fora da Susepe

Sérgio Fortes foi exonerado da Superintentedência de Serviços Penitenciários (Susepe).
E a política de transparência do governo parece não se aplicar a este caso. O Secretário de Segurança, José Francisco Mallman não esclareceu a causa do afastamento.
Responsável pelo órgão que administra as casas de detenção no Estado, Fortes sai em meio à polêmica sobre a construção de um novo presídio entre Viamão e Alvorada, sugestão que vinha sendo criticada pelos prefeitos dos dois municípios. O ex-superintendente da Susepe disse que seu afastamento pode ter sido provocado por motivos políticos, já que não se guiava por orientações políticas na nomeação de pessoas para cargos de chefia no órgão. A hipótese não foi confirmada pelo Secretário de Segurança José Francisco Mallman, que ainda não divulgou quem assumirá o cargo. A saída de Fortes foi lamentada pelo Sindicado dos Agentes Penitenciários, que aprovavam o trabalho do promotor aposentado no órgão.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Dois skinheads são indiciados por agressão a um punk na capital

Os dois jovens foram indiciados por tentativa de homicídio, formação de quadrilha, corrupção de menores e racismo. No dia 16 de setembro, após saíram do estádio Olímpico, onde assistiram a um Gre-Nal, eles agrediram um punk com 11 golpes de canivete, socos e pontapés. A vítima teve vários órgãos perfurados. Conforme o delegado responsável pela investigação, Paulo César Jardim, em depoimento a polícia, a dupla confessou o crime e admitiu ligação com grupos que seguem idéias nazistas e pregam o ódio a punks, judeus e negros. Se condenados pelos 4 crimes apontados no inquérito policial podem pegar de 15 a 20 anos de prisão.
É difícil assimilar como esse tipo de comportamento e ideal ainda encontra adeptos. Dizem que conhecer a história serve para que não se repitam os mesmos erros do passado. O que aconteceu com o bom senso e a valorização das pessoas pelas outras pessoas?

domingo, 7 de outubro de 2007

A visão da polícia por trás das grades

http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a1640110.xml&template=3898.dwt&edition=8567&section=69

Dizem que não se pode generalizar. Mas me desculpem, senhores policiais honestos, tratem de tomar providências pra eliminar as maçãs podres da cesta. Tenho ouvido muitas histórias ruins por aí.

Medida elimina obrigação de que todo preso seja submetido a exame de lesão corporal

A última (e finalmente - ou por enquanto - sem polêmica) portaria vinda da Secretaria de Segurança Pública restringe os exames de lesão corporal nos Departamentos Médicos Legais. A idéia é dasafogar o órgão “da grande quantidade de perícias dessa natureza, que travam o serviço e impedem um atendimento mais ágil e prioritário a outros tipos de exames”, como divulgado em nota da SSP. A idéia é que presos serão submetidos à perícia somente quando o detido estiver visivelmente ferido, quando for pedido do preso ou de seu advogado. A idéia é uma boa iniciativa, já que o Instituto Geral de Perícias há muito sofre com a falta de estrutura e funcionários. Segundo a entidade de classe que reúne esses servidores, o órgão enfrenta um déficit de aproximadamente 400 funcionários. Dado que comprova que até então os exames de lesão eram trabalho era jogado fora é o seguinte: em setembro foram realizados 269 exames de corpo de delito em presos. Em somente 66 desses casos (24%) os resultados foram positivos. Nos demais 203 requerimentos, ou 76% das ocorrências, não foram detectadas lesões corporais.

Rápido registro

Deu na ZH de sexta-feira 05/10 - Página 3

Lei seca e silenciosa
Moradores do bairro Moinhos de Vento, na Capital, que não dormem direito nas blitze da Operação Lei Seca podem ter esperanças de melhores noites de sono. Em função das reclamações sobre buzinaços durante a fiscalização, o secretário de Segurança Pública do Estado, José Francisco Mallmann, avisa que a BM tem agora ordem para multar os motoristas barulhentos depois das 22h.

(Será que vale pra Cidaded Baixa também? Não aguento mais motoristas buzinando na sexta à noite.)

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Farinha do mesmo saco

Fico impressionada com a quantidade de coisas que viram caso de polícia nessa cidade. Não só na cidade. No país, no estado, no mundo. Tudo é caso de polícia. Desde o moleque que bate uma carteira, até o político que desvia verba e enriquece às nossas custas.
Até o mais conceituado dos cirurgiões plásticos vai parar na cadeira da frente do delegado, prestando depoimento quando uma mulher morre na sua clínica. Uma senhora, de 66 anos, que só queria parecer um pouco mais jovem. Morreu, coitada. Mal súbito. Parada cardíaca, embolia pulmonar, erro médico. Vai saber. A polícia investiga.
Ontem descobri um sistema criado aqui mesmo no Rio Grande do Sul, que vai identificar criminosos a partir da comparação entre vídeos de câmeras de segurança e fotos de suspeitos. Classe internacional. Diz o Capitão Pulita, lá da Secretaria de Segurança Pública, que já foi até exportado. Os menores batedores de carteira do centro da cidade que se cuidem. A polícia investiga.
E mais dois depoimentos hoje na série Macalão. A Polícia Federal investe mais um pouco no caso. Ouve mais gente, tira mais conclusões.
O médico, o batedor de carteira, o Macalão. No final, tudo farinha do mesmo saco.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Polícia apreende menor por assalto e violência sexual em Porto Alegre

Policiais da 23ª DP de Porto Alegre apreenderam, às 16h desta quarta-feira (03/10), um menor de 16 anos que aterrorizava a região em volta da Rua Luís de Camões, bairro Santo Antônio, em Porto Alegre. Ele praticou 10 assaltos e abusou sexualmente de três meninos adolescentes daquela região. Segundo o delegado Flávio Conrado, titular da 23ª DP, o menor infrator saiu há dois meses da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo do Rio Grande do Sul (FASE).


A nota foi diovulgada pela Assessoria de Imprensa da Polícia Civil.

O Estado gasta POR MÊS, R$ 5 MIL REAIS para dar assistência aos adolescentes infratores na Fase. CINCO MIL. Tentei, mas não consegui descobrir quanto tempo ele ficou internado, mas suponhamos que foi uma semana, no mínimo. Quer dizer, foi investido no mínimo, reforço, R$ 1,5 mil nesse garoto, no alto de seus 16 anos.
Diz o delegado que a mãe do adolescente já fez de tudo para recuperar o menino que, no último mês, cometeu pelo menos 10 assaltos.
Esse parece o típico caso em que o mau comportamento é inerente à pessoa. O tipo de caso que não se soluciona com medida de internação. Quem deve arcar com esse tipo de situação? Quem está preocupado com isso?

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Toque de recolher

Toque de recolher. O termo parece de guerra. Lembra filmes. E acontece em Porto Alegre. A informação foi divulgada pelo repórter Jimmy Azevedo, da Rádio Bandeirantes.
O toque de recolher funcionaria em bairros da zona norte, imposto pela força dos traficantes.
A denúncia partiu de um membro do Conselho Tutelar. Ele conta que em bairros muito pobres, onde o tráfico de drogas faz vítimas, inclusive crianças, a Brigada Militar não estaria coibindo avenda e o consumo de drogas.
Um policial relatou que moradores da região reclamam do toque de recolher, que funcionaria a partir das 23h.
Para garantir a atuação do Conselho Tutelar, especialmente na assistência às crianças e adolescentes usuários de crack, existiria uma negociação com traficantes.
Será que é possível medir o poder dos traficantes? Será que, em nível de Brasil, o tráfico é o novo poder executivo?
Perguntado, em outra circunstância, se o Rio de Janeiro (símbolo do poderio dos traficantes) teria solução, o subcomandante geral da Brigada Militar Coronel Paulo Roberto disse que sim, porque se acreditasse que não, a situação por aqui ficaria preta. Será que falta muito?


Falando nisso, a Folha lançou uma série de publicações chamada FOLHA EXPLICA voltada para a questão da violência. O link a seguir se refere ao narcotráfico. É interessante. Mas bem que poderia fazer mais efeito. Não sei, ando meio descrente quanto ao assunto.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u132350.shtml

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Golpe perfeito

Carla comprou um carro há dois anos. Um XSara Picasso 2006, preto, placas de Porto Alegre. Pagou à vista, na revenda da marca, na capital gaúcha. No dia 21 de agosto desse ano, a psicóloga atendeu um telefonema. O inspetor Portela, da 2ª DP de Pelotas pedia seu depoimento em um caso de estelionato investigado na cidade. Cerca de duas semanas antes, um senhor de aproximadamente 60 anos havia registrado uma ococrrência na delegacia a respeito de uma cobrança de empréstimo. Uma financeira ligada ao banco Itaú cobrava dele um empréstimo de 22 mil reais, utilizado para comprar o XSara Picasso de Carla.
A psicóloga foi atrás do banco, do Departamento de Trânsito e da Polícia para entender o que estava acontecendo. Descobriu que seu carro estava alienado ao banco (e que ela não poderia, portanto, viajar com ele para fora do Brasil e nem vendê-lo euqnato o empréstimo não fosse quitado) e não estava mais em seu nome, mas sim no nome do sr. Silmar Lopes, residente em Pelotas. O mesmo que registrou a ocorrência na 2ª DP.
Parece uma história de filme, ficção, conto, livro..Mas não é. Segundo o delegado Adilson Mazin, titular da delegacia responsável pelo caso em Pelotas, a cidade já resgitrou ocorrências semelhantes. Muitos nomes estão envolvidos nas denúncias feitas sobre o caso nos últimos dias. Tudo indica que seja um crime de estelionato envolvendo funcionários do banco, uma revenda de carros usados de Pelotas e um hábil falsificador de documentos.
O banco não quis se manifestar e só entregará os documentos utilizados para o empréstimo mediante pedido judicial. Tanto a Polícia Civil como a advogada de Carla devem entrar com ações até o final dessa semana. O dono da revenda não foi localizado, mas ela permanece em funcionamento no centro da cidade na zona sul do estado.Há indícios de que exista ligação entre esses falsificadores e a última quadrilha descoberta pela Polícia Federal, no interior de Viamão, durante a Operação Patrimônio, no ínicio do mês.
Mas, por enquanto, tudo são suspeitas e indícios. A Polícia segue investigando, mas até que tudo esteja concluído, Carla permanece com o carro alienado e o sr. Silmar continua a dever 22 mil reais de um empréstimo que, sequer, sonhou em pedir. Até quando, hein? Até quando?

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Dias de chuva

Dias de chuva acalmam criminosos.
Domingo. Choveu 80% da média prevista pra todo mês de setembro em Porto Alegre. Liguei três vezes pra polícia pra saber se alguma coisa acontecia na cidade. Nada.
Contrate São Pedro para vigiar seu condomínio.

O que preocupa:
- Oi Capitão, Natália, tudo bem?
- Oi Natália, tudo.
- E aí, alguma coisa acontece na cidade?
- Nada. Tudo parado.
- Nada nada? Nada mesmo?!
- Nada, Natália. Estão calminhos. É a chuva, né.
- Uau. Ok... obrigada Capitão, bom trabalho.
- Pra ti também.

Em resumo, o que preocupa: a surpresa pelo fato de nada ter acontecido. A que ponto chegamos...

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Diálogos


O contexto: Três grupos de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra caminham da fronteira, da zona sul e da região metropolitana rumo a Coqueiros do Sul, no norte do Estado. O objetivo: pressionar pela desapropriação da Fazenda Coqueiros, de propriedade da família Guerra. Um dos grupos passou por Bagé, e houve transtornos. O alojamento dos sem-terra, um ginásio municipal, foi depredado. Porém, não pelo MST. As agressões partiram da parte externa do prédio.

Mauro Cibulski, coordenador estadual do MST: “Os produtores rurais se organizaram e passaram a noite jogando pedras e rojões (...) depredaram patrimônio público (...) destruíram o carro do Frei Zanatta (...) quebraram janelas (...) Foi feita denúncia na delegacia e também no Ministério Público”

Tarso Teixeira, vice-presidente da Farsul: “Dificilmente isso tenha partido de ruralistas. Isso provavelmente partiu de moradores da cidade, porque hoje em dia ninguém mais aceita que esse tipo de gente passe por sua cidade (...)”

Mauro Cibulski, coordenador estadual do MST: “E a Brigada Militar ficou lá olhando, sem fazer nada. Esperamos que a Secretaria de Segurança Pública tome providências imediatamente (...)”

Coronel Paulo Roberto Mendes, subcomandante geral da Brigada Militar: “Isso é típico do MST. Eles sempre dizem que a Brigada Militar nunca faz nada e quando faz é contra eles. A Brigada Militar não tem lado! A obrigação da Brigada Militar é manter a ordem pública, não importando quem está tomando qualquer atitude de perturbação a ordem pública. E é para acabar com essa ladainha (...)!”

Mauro Cibulski, coordenador estadual do MST: “Nós estamos marchando e dialogando com as comunidades, estamos sendo muito bem recebido (...) e nós devemos chegar a Fazenda Guerra na primeira ou segunda semana de outubro (...) queremos a desapropriação da Fazenda Guerra (...)”

Tarso Teixeira, vice-presidente da Farsul: “Nós não vamos permitir nenhuma invasão de terras no Rio Grande do Sul (...) são um bando de desocupados urbanos (...) boa parte dessas pessoas não tem raízes da terra (...) tem que ter preparo para ser um produtor rural (...) Vamos montar um acampamento dentro da Fazenda Coqueiros e apoiar a família Guerra. E eles não vão entrar naquela terra”

Coronel Paulo Roberto Mendes, subcomandante geral da Brigada Militar: “A Brigada Militar está finalizando um relatório para encaminhar e pedir a intervenção do Ministério Público e evitar um conflito entre os produtores e o MST”

Mauro Cibulski, coordenador estadual do MST: “Nós sabemos que o coronel Mendes tem um posicionamento contrário ao MST. Ele está dizendo, mesmo na imprensa, que o que há é um conflito eminente. Mas nós não queremos conflito. Nós sempre marchamos e estamos fazendo algo que é de direito: nós estamos lutando pela reforma agrária”

Coronel Paulo Roberto Mendes, subcomandante geral da Brigada Militar: É por isso que nós estamos acionando o Ministério Público, porque queremos evitar um problema maior para a comunidade”

Se eu tiver que ter um lado, do lado de quem eu devo ficar?

Porque, ou o MST se faz de vítima (com um discurso muito mais sutil do que as práticas que utilizam e que também lhe apregoam) e a Brigada Militar realmente se posiciona ao lado dos ruralistas, sempre; ou o MST não tem direito a invadir terras e a Brigada Militar está apenas cumprindo a lei, que zela o direito a propriedade privada.


segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Dilemas criminais. Dilemas morais.

A justiça determinou a progressão de pena para o assaltante de bancos Cláudio Adriano Ribeiro, o "Papagaio". Ele já cumpriu um terço da pena, fixada em 36 anos. Foi o primeiro e único assaltante na história a fugir da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas. E agora vai para o regime semi-aberto.

A promotoria, a polícia civil e alguns especialistas criticam veementemente a lei brasileira que permite que assaltantes, considerados perigosos, sejam postos numa penitenciária que não possui o mesmo rigor na segurança e torna a fuga um jogo de criança.

Numa entrevista que concedeu ao jornalista Farid Germano Filho, Papagaio disse que já cumpriu o que tinha que cumprir, que possuía apenas o desejo de reconstruir a vida e ficar perto dos filhos. Falou também que quando fugiu da Penitenciária Estadual do Jacuí, em agosto do ano passado, após ficar detido por 97 dias no semi-aberto, tomou tal decisão porque soube, através da advogada, que o Ministério Público havia conseguido uma decisão que o colocaria de volta atrás das grades da PASC. "Foi uma atitude desesperada, eu queria ficar perto dos meus filhos", disse ele. "E tu podes ver, não cometi nenhum crime nesse período. Única coisa que eu quero é cuidas dos meus negócios", complementa. Sem adicionar, claro, que seus negócios (ele é dono de imóveis e dizem que de algumas lojas e restaurantes) ele construiu através do crime. Roubando bancos.

Nesta segunda-feira a advogada do criminoso, Maria Helena Viegas, comemorou a entrega de uma intimação da justiça a Superintendência de Serviços Penitenciários, estabelecendo 24 horas para que ele seja transferido. Nesta terça ele voltará para o mesmo albergue de onde fugiu em agosto do ano passado. A advogada complementou: "vamos ver se agora deixam o rapaz cumprir a pena dele em paz".

Quer dizer: ele afirmou com firmeza e até uma certa dose de sinceridade que tinha interesse em continuar a vida dele longe do crime, que tudo que queria era cumprir a pena em paz e que o Ministério Público largasse do seu pé.

Todo mundo sabe que o sistema penitenciário do país não oferece condições ideais para se afirmar que um preso pode ser ressocializado. E se sabe, de outro modo, que se a sociedade não der oportunidade, aí sim que ele nunca poderá ser inserido novamente na sociedade.

Como lidar com esse dilema moral, que diz que se deve dar uma oportunidade, e ter como contrapartida a desconfiança, nutrida por uma série de eventos negativos presentes na história do cidadão em questão e de tantos outros que, ao mesmo tempo que esperam uma oportunidade para tomar jeito na vida, podem estar esperando uma oportunidade para uma nova jogada criminosa que garanta dinheiro fácil e em grande quantidade?

Daqui para frente

O blog ficou parado por duas semanas.
Uma série de atividades que impediram uma atualização comprometida. Daqui pra frente ele receberá um novo psot dia sim, dia não. Analisando e falando sobre os bastidores da editoria de polícia, e tudo que ela pode envovler.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Assalto. Tiroteio. Morte.

A chamada é forte. Assalto. Tiroteio. Morte. Violência. Tudo num dos lugares mais movimentados de Porto Alegre. Ali mesmo, onde tu passas todos os dias de ônibus. Pertinho de onde tu vais tomar chimarrão aos domingos. Ali do lado da Redenção. Pertinho da faculdade. E do Colégio Militar.
No meio da tarde, um grupo de criminosos invade uma imobiliária na Avenida Oswaldo Aranha para cometer um roubo. Na fuga, eles se deparam com a polícia. Troca de tiros. Dois criminosos mortos e um terceiro ferido.
O comandante da 3ª Companhia do 9º Batalhão da Brigada Militar, que é responsável pelo policiamento na região, Major Lúcio Alex Ruzik, diz que o fato é algo atípico, e não vai motivar medidas específicas por parte da Brigada Militar.
Enquanto eu conversava com o Major, apareceu um soldado, que foi o primeiro a se deparar com os ladrões e trocar tiros. A expressão de nervosismo estava clara na sua fisionomia. Olhos arregalados com lágrimas acumuladas, voz tensa, gestos de certa forma extravagantes para um policial. Perguntei para o Major: é a primeira vez que ele pega algo grave assim? Sim, foi a primeira vez. E ele foi o primeiro PM a se deparar com os bandidos.

Em que medida esses profissionais estão verdadeiramente preparados para assumir a atividade que lhes é designada? Não desconfio da competência da Brigada Militar. O que quero salientar é que por vezes existe tamanha cobrança da população, mas não se leva em consideração que policias não são super-homens. Não são imortais. E têm um agravante: têm um salário básico de R$ 728. Isso inclui aqueles adicionais pelo risco de morte. O salário mais baixo do Brasil.
Do outro lado, estão pessoas marginalizadas que arriscam a vida para obter dinheiro. Às vezes não têm muito a perder. Às vezes perdem a vida. Cujas histórias e existência perdem significado no exato instante que se tornam alvos de balas de revólver. Seja do armamento da polícia, seja do armamento de outros criminosos.

E por aí está o restante da população. Nem polícia, nem bandidos. Civis. Que também têm medo. Que também não são imortais, e se vêem no fogo cruzado entre polícia e bandidos.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Extremos

Mais de 60 pessoas presas. Desfeito o grupo quer era responsável por pelo menos um terço dos casos de roubo e furto de carros no Rio Grande do Sul. Se pegarmos agosto como exemplo: foram 90 carros roubados por dia, em média, ou 2790 em todo o mês. 80% em Porto Alegre (que é a cidade onde mais se rouba carros no país) e região metropolitana. Ou seja, em um mês eles roubaram aproximadamente 930 veículos.

O caso teve até cena de filme. Um falso despachante, que forjava documentos dos veículos e de outros membros da quadrilha (numa precisão e qualidade impressionantes) mantinha o escritório para o “serviço” em uma casa em Alvorada. O curioso: atrás da parede falsa de uma lavanderia, que se abria por um sistema eletrônico através de um botão camuflado.

Entre os presos estão pessoas que roubavam e receptavam os veículos, que falsificavam documentos e chassis e que revendiam os carros.

Uma operação deflagrada rapidamente, que surtiu efeitos e que, ainda, dá ao Secretário de Segurança José Francisco Mallman a expectativa que vai cair o número de roubo e furto de carros no Estado.

Verdade seja dita: a Polícia Federal é realmente impressionante. Faz, sozinha, o que nos Estados Unidos, por exemplo, é necessária a atividade de pelo menos cinco órgãos. E faaz o trabalho ser reconhecido e motivo de curiosidade das polícias de outros países. Que tem na gerência pessoas que tiveram consciência e competência para reestruturar uma corporação que até então era de certo modo desacreditada e posta sob dúvida, já que não se falava muito sobre a corporação e os agentes.

Esse tipo de trabalho é o que se espera dos órgãos de segurança pública.

Mas coloquemos num contexto. Houve todo um trabalho de valorização e reestruturação, além dee uma gama enorme de investimentos. Há tecnologia, estrutura física, profissionais capacitados e, mais importante, bem recompensados, o que evita qualquer ato, por exemplo, de corrupção. O salário inicial é superior a R$ 7 mil.

Na outra ponta, marcada pela dificuldade, está a Polícia Civil do Rio Grande do Sul. Penalizada por toda falta de recursos físicos e humanos com uma demanda de trabalho que cresce a cada dia. Essa mesma polícia prendeu no final de semana mais de 50 pessoas ligadas a roubo de cargas no Estado. Imagine o que não faria nossa polícia se fosse mais valorizada e recebesse mais investimentos.

domingo, 2 de setembro de 2007

Por que a humanidade faz essas coisas?

Fui surpreendida pela pergunta: Por que a humanidade faz essas coisas?
Partiu da minha mãe, após dois minutos de silêncio no carro. Geralmente as perguntas têm alguma relação com o assunto anterior ou com qualquer fato que tenha se passado diante dos olhos das duas pessoas que travam o diálogo. Não nesse caso. Do nada, a dúvida.
"Como assim? Isso o quê?", devolvi. "Essas coisas. Assalto, guerra, morte. Precisa disso tudo, hein?".
Ao mesmo tempo visualizei algo como num filme: começa com um close na minha mãe fazendo a pergunta e com aquele olhar meio vazio dela quando pensa longe; e vai abrindo, pega a cidade, pega o Estado, o Brasil, o continente e o planeta. Porque eu vi como a pergunta, a raiva e minha mãe são pequenas diante dos fatos. Algo do tipo: sinal de impotência.
Mas senti uma ponta de ciúmes da indignação, sem motivo explícito, manifestada por ela. É verdade. Por quê? E por que essa indignação parece algo tão cômico? A raiva desses problemas já se tornou tão banal, corriqueiro e despercebido quanto desejo de paz no mundo em ano novo. Algo como sonho de miss.
Então parei e pensei como a violência já está tão intrínseca ao nosso dia-a-dia que ela também se configura simplesmente como mais um fato. A ser noticiado. A ser lido.
Na última sexta, um policial rodoviário foi morto numa tentativa de assalto. Neste sábado, um segurança foi baleado numa casa noturna. Os dois crimes aconteceram na zona norte de Porto Alegre. Nesse mesmo final de semana outros dois PMs do 21º Batalhão da Polícia Militar, que também atende a zona norte, foram baleados ao atender uma ocorrência.
Fica aquele impasse. Aprofundar a história? Incomodar a família? Será sensacionalismo? Mas cada morte dessas é uma história inteira jogada para debaixo da terra ou perdida no fogo. Fica somente em algumas memórias. Quer dizer, o fato de estarmos tão habituados com esses crimes faz com que fatos assim sejam simplesmente mais um fato assim. Simplesmente mais um dado pras estatísticas. Números números números. x mortes em y dias. Reforço do policiamento com z homens.
Morreu em bairro pobre, nem precisa noticiar. Queima de arquivo, dívida com tráfico. Se é de classe média, vira notícia de capa. E se é policial, então, se vê uma agilidade impressionante na identificação e detenção dos suspeitos. Que, apesar de serem apenas suspeitos, são apresentados em coletivas de imprensa como animais, diante de enormes logotipos dos órgãos de segurança pública. Têm os nomes divulgados, mesmo sem ter a culpa confirmada. Onde estão os limites, tanto dos jornalistas quando da própria polícia em expor as "presas" dessa forma?
Por outro lado, em que medida a prática de crimes é uma opção ou a única alternativa? Quantas pessoas que praticam esses atos possuem falhas de conduta e quantas são levadas por algum motivo para este mundo? Em quanto reduziria a violência se essas pessoas tivessem a tão famigerada OPORTUNIDADE?
Nada em específico motivou esse post. Não há aqui muitas informações. Apenas constatações. Num rápido instante de influência na corrente da indignação.

sábado, 1 de setembro de 2007

A Segurança Pública ganhou na loteria. Uma nova Operação Tapa-Buraco

Na mesma semana em que a loteria pagava cerca de R$ 54 milhões a algum sortudo que acertasse as dezenas-da-garantia-do-futuro, o governo do Estado anunciou investimento de R$ 50 milhões para a segurança do Rio Grande do Sul.
A governadora Yeda Crusius e o Secretário de Segurança José Francisco Mallman chamaram uma coletiva no Palácio Piratini para a divulgação oficial dos valores. Sexta-feira, 31 de agosto, 11 horas da manhã. Detalhe: a coletiva foi marcada sem que os valores estivessem confirmados.
Repórteres de quase todos os veículos de Porto Alegre a postos na ante-sala do gabinete da chefe do executivo. 11h... 11h e 15min... 11h e 25min. Nada do anúncio. Repórteres revoltados e ansiosos. Uns tinham jornal ao meio-dia. Outros estavam com o jornal no ar. Não foi a primeira vez que o poder executivo deixa aquele bando de escravos dos fatos à espera. Quer dizer: horário marcado, horário cumprido. Porque a governadora não tem com a agenda o mesmo rigor que tem com o caixa do Estado?
Bom, 11h30 chega o Secretário e sua trupe composta pelo Comandante da Brigada, Cel. Nilson Bueno e pelo Chefe de Polícia, Pedro Rodrigues. Pede desculpas pelo atraso e diz que os números foram confirmados momentos antes.
Ok. Num rápido bate-papo ele volta a defender a Lei Seca e diz que aguarda proposta dos clubes de futebol sobre a questão do policiamento nos Estádios. Entra no gabinete.
Nesse meio tempo de atraso alguns repórteres tentaram até propor o que um dos mais experientes, Gustavo, chamou de "levante histórico da imprensa". "Vamos embora", disse ele, "todos nós. Quero ver o que eles vão fazer. Depois divulgam o release e deu". Era uma boa mesmo. Uns poucos repórteres deram pra trás e o "levante histórico da imprensa" não aconteceu.
Repórteres à espera. 11h e 57min somos chamados.
As autoridades anunciaram a liberação da verba oriunda do Programa Nacional da Segurança com Cidadania (Pronasci – já chamado PAC da Segurança). A verba virá para a construção de dois presídios, sendo um para jovens de 18 a 24 anos (ainda sem local definido) e outro de segurança máxima em São Leopoldo. O restante vem para aparelhamento das polícias, investimentos em estrutura e inteligência, contratação e formação de pessoal, além de 30 viaturas utilizadas nos jogos Pan-Americanos, doadas pelo governo federal. A contrapartida do Estado nessa verba toda ficou em pouco mais de R$ 4,5 milhões, valor abaixo do que se costuma estabelecer.
Tudo muito bom, é uma grana alta para ser aplicada em todo o Estado.
Mas ela será liberada somente se o Estado cumprir com sua contrapartida, o que a governadora garantiu que acontecerá (veja o caso Baltazar de Oliveira Garcia, parada por 11 meses pela falta de cumprimento do pagamento dos valores por parte do Rio Grande do Sul). Acreditamos. Ela foi determinada na resposta.
Mas o que mais incomoda nisso tudo é a dúvida de como e quando vamos ver a aplicação desse dinheiro. E saber que, por mais que sejam necessários esses investimentos – eu jamais ousaria negar – é que isso tudo funciona (numa analogia simplista) como a famigerada (e frustrada) Operação Tapa-Buraco do governo federal. Esconde alguns problemas, mas com o tempo eles voltam a aparecer.
Quer dizer: em breve os aparelhos ficarão velhos, os servidores da ativa se tornarão inativos, as estruturas ficarão defasadas e os presídios superlotados.
É preciso uma ação mais ampla. Atacar o problema na base, na raiz, onde ele começa a acontecer. Mas parece que as pessoas têm preguiça de pensar nisso, de se preocupar. Lógico! Porque os resultados não seriam imediatos, e sem resultados imediatos, para que as pessoas vejam (viaturas nas ruas, presídios sendo construídos e fotos para o jornal inaugurando postos e entregando equipamentos) ninguém é reeleito, ninguém conquista apoio popular. E o que é mais importante? O apoio, claro.
Os recursos são importantes sim. Porém eu fico me perguntando se eles vão se limitar a Operação Tapa-Buraco da Segurança ou se vão ir mais adiante. E qual será nosso papel nisso?
...
Enquanto isso, na saída da coletiva, em frente ao palácio, eu e dois repórteres, Jocimar e Zé, conversávamos com o Secretário sobre a Lei Seca. Numa brincadeira, um deles disse: "em festa só quentão, então, secretário?". Nisso está passando uma senhora. "Nem quentão, meu filho. Depois eles saem todos loucos por aí e dá essas mortes todas. Tem que proibir mesmo, e logo". Mallman recém havia saído do local. E ela foi atrás. "Tem que proibir logo", voltou a afirmar. O Secretário sorriu, colocou a mão no ombro da senhora, olhou para o Zé e disse: "Viu? Ta vendo?". Ela serviu para reforçar a tese que 60% da população é favorável à restrição à venda de bebidas alcoólicas.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Mãe mata bebê e abandona corpo em lixão

Hoje cheguei na redação mais cedo que o habitual. Logo na chegada, minha colega produtora me diz "dá uma olhada nisso aqui. acho que pode valer pra tarde". Peguei o Diário de Canoas, li a manchete. Algo que se assemelhava a "mãe mata criança e abandona corpo em lixão". De pronto, fiquei apavorada. Abri o jornal e li a matéria. Em poucas palavras dizia o seguinte: uma mulher de 23 anos, que já tem três filhos, fez um parto sozinha no banheiro de casa, sufocou uma criança durante trinta minutos com um travesseiro, colocou o corpo já sem vida em uma sacola de plástico. Isso no dia 17 de agosto. Por volta do meio-dia, ao perceber que o bebê estava roxo (nas palavras do Diário de Canoas), o colocou em um saco preto de lixo e deixou na frente de casa, já que sabia que o lixeiro passaria por lá em algumas horas. O motivo: a menina - sim, com 23 anos - tinha medo que a mãe a colocasse para fora de casa, já que ela tem três filhos e o mais velho tem quatro anos.
Apavorada com a história, ligo para a 3ª DP de Canoas, ainda tentando digerir tanta informação. O delegado Marcínio Tavares, titular da 3ª DP, não estava na delegacia no momento. Pedi, então, alguém da investigação. Depois de ouvir uma musica enjoada por uns 3 minutos, atende o investigador Leandro. Expliquei a situação, da maneira menos cruel que consegui, e pedi alguns detalhes da investigação. Como estão as buscas? Qual a previsão de que se encontre o corpo? A acusada vai ser indiciada?
Para a maioria das perguntas a resposta foi "isso, só com o delegado". Agradeci as informações e desliguei. Recorri a agenda da produção e descobri o celular do delegado, que estava em uma reunião no Palácio da Polícia. Ele me atendeu da maneira menos cordial possível. Explicou que a acusada tinha confessado o crime, que tinah dado as explicações que encontrei no jornal e que a ocorrência só tinha sido registrado ontem, dia 28, depois de 11 dias do acontecido. E também me disse que as buscas tinham sido encerradas no dia anterior. A última pergunta: "ela vai ser indiciada?". Sim, com certeza. Eu, meio tonta com a quantidade de novas informações, ignorei o fato de que as buscas tinham sido encerradas exatamente no dia em que começaram.
Desliguei o telefone, liguei novamente para a DP. Consegui o telefone da mãe da menina, com quem conversei demoradamente sobre o caso. Embora a senhora tenha começado a chorar desesperadamente e tenha me deixado sem saber o que fazer, me disse, entre outras coisas, que a filha estava em casa e completamente surtada.
Depois de tantas ligações parei para pensar onde estava minha matéria no meio disso tudo. Além da história triste, da família desestruturada da periferia e de toda a questão socio-antropólogica envolvida no fato, duas coisas me chamaram a atençao: primeiro, como uma menina faz um parto sozinha, mata uma criança e continua cuidando de outras três? Segundo, como a polícia vai indiciar alguém sem a prova do crime, no caso o corpo? Afinal, mesmo com a confissão, diante da justiça não há crime sem corpo.
O delegado apenas soube dizer: a cada dia, 500 toneladas de lixo são depositadas no aterro sanitário de Canoas. Levando em consideração que são 11 dias, cerca de 6 mil toneladas já foram colocadas sobre o que foi, um dia, o corpo do bebê, um menino. Impossível, revirar toneladas de lixo procurando um corpo mínimo. Mas, ainda assim, ele insiste no indiciamento. Seis anos de prisão seria a pena pelo infanticídio.
Não tenho nenhuma solução sobre o caso. Tenho apenas a minha opinião e o descontentamento com meu chefe, que não quis investir na pauta, mesmo com a possibilidade de ouvir o Ministério Público e o Comando Geral sobre o fato de o titular da 3ª DP de Canoas ignorar sua responsabilidade com um simples "se não encontrarem o corpo, não é problema meu".

Reforços

O que um repórter faz depois que ocorre algum ato de violência em qualquer ponto do Estado? Liga para o comando da Brigada Militar da região para saber quais são as providências. A resposta de sempre: reforço no policiamento ostensivo.
Nesta terça-feira (28) uma adolescente de 14 anos foi atingida de raspão na cabeça por uma bala perdida dentro do Parque de Exposições Assis Brasil em Esteio, em plena Expointer.
Um ato assim coloca em xeque a eficiência da Polícia Militar, ainda mais numa área onde foram colocados 250 policiais para garantir a tranqüilidade do maior evento de agronegócio da América Latina.
Há cerca de cinco minutos conversei com o subcomandante-geral da BM, Coronel Paulo Mendes. "Temos que tomar medidas efetivas, para evitar que um fato lamentável desses venha a se repetir. Estou reforçando o policiamento, aumentando o efetivo e intensificando à fiscalização inclusive com revistas para impedir o porte de armas". Neste ano, até hoje (29), nenhuma arma de fogo foi apreendida pela polícia dentro do parque.
Só em complemento ao blog anterior: o caso, segundo informações iniciais, envolveria briga entre grupos rivais. Álcool? Talvez. E a Lei Seca... Bom, perguntei para o Coronel Mendes se a Brigada Militar se preocupará com isso também dentro do parque, especialmente na sexta, sábado e domingo, como já ordenado pelo Secretário de Segurança Público. "Mas é lógico!".
A campanha é forte...

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Assunto pra mesa de bar: a falsa polêmica

Essa semana chega às mãos da governadora Yeda Crusius o anteprojeto da lei seca. A idéia é restringir a venda de bebidas alcoólicas em todo Estado como forma de combater a criminalidade.

Segundo o Secretário de Segurança José Francisco Mallman, a proposta elaborada por um grupo de trabalho (instituída pelo próprio) proíbe ainda mais a venda de álcool. Inicialmente a idéia de aplicação estava restrita a sextas-feiras e finais de semana. Pelo anteprojeto, bebidas alcoólicas não poderiam ser vendidas durante toda a semana, porém em horários distintos.

A primeira e principal justificativa do secretário para implementação da Lei Seca (que ele tentou fazer que surgisse como iniciativa dos municípios, mas não conseguiu) foi que 80% dos homicídios acontecem sob influência do álcool.

Conversando com colegas de profissão numa dessas pautas da vida, lembramos que, novamente questionado sobre o dado, Mallman não citou mais os homicídios como exemplos tão “promissores” da influência da bebida. A estatística não existe.

Na mesma semana em que o projeto começa a ser seriamente avaliado pelo governo do Estado, o Chefe de Polícia, Pedro Rodrigues, convoca uma coletiva. No terceiro andar do Palácio da Polícia, sentado em frente aos jornalistas, o delegado explica a causa da entrevista: “há muitas opiniões de todos os lados sobre a eficiência da lei seca na redução da criminalidade. Para acabar com isso eu pedi um levantamento sobre quantos inquéritos policiais que estão em andamento apresentam crimes que, de alguma forma, tem relação com o álcool”.

Disse o delegado que dos 1,3 milhão de inquéritos, 40% são de crimes que aconteceram sob influência da bebida alcoólica.

O caso está claro. Os subalternos se movimentam para, dentro de suas possibilidades, fortalecer a tese da autoridade máxima da segurança pública no Rio Grande do Sul. (Não quero com isso questionar a competência de José Francisco Mallman. Tenho plena consciência do conhecimento técnico, prático e tático ligado à área da segurança. Estava lá quando uma operação chefiada por ele localizou 22 bandidos ligados ao Primeiro Comando da Capital, vulgo PCC, num edifício do centro de Porto Alegre. Desde que eu vi aqueles criminosos com marcas de pé na bunda após serem presos pela Polícia Federal, não duvido da competência desses profissionais. Voltando ao fato...). Mas o dado foi divulgado sem qualquer base teórica ou comprovação científica. Em outros termos: chute. “Isso nós levantamos com base nos relatos de policiais e depoimentos das vítimas”. Quer dizer, exames, testes, contas, números! São os números que provam, não?

“São dados que vêm da fonte, de quem lida com isso diariamente”, ressalta Pedro Rodrigues. Ok, delegado, eu não duvido. Mas o senhor divulgar numa coletiva de imprensa um chute? Está clara a intenção. “O que é importante ressaltar é a grande presença do álcool nos crimes de trânsito (55% dos casos), contra a mulher e contra criança e adolescente (ambos 80% dos casos)”.

Existe uma tentativa de movimentar a opinião pública a favor da implementação da Lei Seca. Não vou duvidar aqui da possível eficiência de tal norma em casos de crimes passionais: vizinho mata vizinho, marido mata mulher. E reduzir esses índices, lógico, seria positivo.

Porém, é uma falsa polêmica. A polêmica que se cria e se sabe que não dará em nada. Basta ler nos jornais. Grande número dos casos de homicídio envolve rixas, acertos de conta. A maioria tem como pano de fundo as drogas. As drogas são ilegais. E então? Se funcionários do Departamento de Água e Esgotos não entram em algumas regiões porque estas são dominadas por traficantes, quem vai fiscalizar a venda de bebidas no bar da esquina?

O que quero não é manifestar contrariedade à restrição à venda de álcool. Não pretendo falhar com um pré-julgamento. Quero dizer que a raiz do problema é outra. E envolve outras, e outras, e outras.

Qual a magnitude do álcool diante do quadro de criminalidade? E educação, e cultura, e política, e religião, e família, e índole, e bom senso e sociedade? Tráfico, policiais mancomunados a traficantes, ausência do Estado em determinadas localidades, abandono, desemprego, instituições falidas (escola, igreja, família). Oferecer alternativas de sobrevivência, mais atraentes que o mundo do crime (e suas facilidades). Impedir que os jovens morram, porque está claro: o número de garotos, rapazes com menos de 30 anos, vítimas de um disparo de arma de fogo, é assustador. O crime não permite longevidade. Isso exigira horas de dissertação. Recursos, prioridades de investimento, porte de arma, estatuto e plebiscito do desarmamento. É tema para tese, não para um simples texto.

O que é preciso: política ampla e emergencial. Porque Lei Seca, a falsa polêmica, convenhamos, é somente assunto pra mesa de bar.

Bira e a fraude dos selos

A Polícia Federal deve ouvir, entre hoje e amanhã, dez depoimentos sobre a fraude dos selos da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. Pelo menos oito dos dez depoentes são assessores de deputados. A PF chegou até os nomes através do rastreamento das 68 mil ligações efetuadas por Ubirajara Macalão, principal acusado na fraude descoberta há quase dois meses, no último ano. Alguns nomes foram citados por Macalão em seu último depoimento à Polícia.

No início de julho, a Assembléia Legislativa abriu uma sindicância para investigar um desvio de três milhões de reais de seus cofres. O então diretor administrativo da casa, Ubirajara Macalão, foi o principal acusado da autoria do crime. O Tribunal de Contas do Estado e a Polícia Federal também se envolveram no caso, até agora sem solução. O que me impressiona não é o valor do desvio.

As cartas da Assembléia são enviadas em envelope timbrado. Cada deputado tem sua cota de postagens mensal. Nenhuma delas precisa de selo para chegar até nossas casas. Basta lembrar que quando recebemos aqueles boletins mensais dos deputados eles vêm apenas com uma etiqueta, que indica onde deve ser entregue. A própria gráfica da Assembléia os imprime e distribui.

Os três milhões - e uns quebrados - foram para onde? Em selos. Mas pra que selos? Sim, essa é a pegunta que me faço até agora. E ao mesmo tempo em que acho absurdo alguém ter comprado três milhões de reais em selos sem que ninguém percebesse, me impressiona a genialidade de Macalão. Selos. Algo tão simples, tão pequeninho, tão insignificante. Ou vai dizer que quando você sai de casa pensa "vou comprar selos. não vivo sem eles"?

O fato é que Macalão, mesmo genial, não pode ter agido sozinho. E não deve, tampouco, ter levado pouco tempo nesse plano. Acredito eu, que essas compras venham acontecendo há, mais ou menos sete anos. Tempo suficiente para que Macalão construísse sua casa na praia. A mesma onde foram encontrados mais de 200 mil selos, enterrados no pátio.

Seguem as investigações da Polícia Federal. A Assembléia deve abrir uma nova sindicância. Mais nomes devem aparecer. E toda aquela novela de CPI. Enquanto isso, o TCE diz apenas que vai exigir que o dinheiro desviado seja integralmente devolvido aos cofres públicos. Eu duvido que alguém devolva...

Bira - como eu prefiro chamar o brilhante ex-diretor administrativo da Assembléia - já tentou até se matar. A última vez que a Polícia Federal o pegou, Bira estava internado na Pinel. Deve ficar pensando o que ele fez para que sua substituta o delatasse. E eu aposto que ele vai achar alguma saída genial para essa situação.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Policiamento nos estádios não está garantido a partir de outubro

O prazo é definitivo: um mês para que os clubes se preparem para pagar pelos serviços de segurança durante as partidas de futebol. Uma portaria publicada no Diário Oficial do Estado desta terça-feira, 28 de agosto, estabelece que em 30 dias os policiais militares serão retirados dos campos para garantir o policiamento ostensivo nas ruas. De um lado, o comando da Brigada Militar está determinado a fazer valer a lei que foi criada em 1985. De outro estão os clubes gaúchos, que alegam não ter recursos para custear valores que, segundo a Federação Gaúcha de Futebol, seriam superiores a R$ 1,3 milhão de reais por ano.

“Futebol é evento privado, e a Brigada Militar precisa garantir a segurança onde é público”, afirma categoricamente o comandante geral da corporação, Coronel Nilson Bueno. O presidente da FGF, Francisco Noveleto, contraria: “Jogo é evento público, é o Estado que precisa garantir a segurança dos torcedores”. E ameaça: “se não houver acordo, nós poderemos até suspender os jogos nos estádios gaúchos”.

Uma lei criada em 1985 determinava que os clubes deveriam pagar pelos serviços prestados pela polícia. Porém, a lei nunca foi regulamentada. Em 2003, com orientação do Ministério Público, os times assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta, que estabelecia que os valores deveriam ser repassados ao Estado. Porém, através de recursos judiciais, os clubes conseguiram evitar o acúmulo dívida.

O assunto foi debatido em reunião fechada na tarde desta segunda-feira (27) no Quartel General da Brigada Militar. Participaram do encontro autoridades da segurança pública, representantes da Secretaria Estadual da Fazenda, dirigentes do Internacional e do Grêmio além da Federação Gaúcha de Futebol. O Estado apresentou a portaria que determina o pagamento de R$ 10,49 por hora de trabalho de cada policial empregado no efetivo em dias de jogos. A norma ainda estabelece que será disponibilizado, proporcionalmente, um PM para seis seguranças privados e cada mil torcedores. Atualmente, num jogo com público de 50 mil pessoas, o efetivo é de aproximadamente 250 policiais. A partir do final de setembro, o número cairá para 50.

“Nós só estamos cumprindo o que diz a lei”, afirma o cel. Nilson Bueno, “lá dentro [dos estádios] é lazer. A polícia tem que atuar na rua, onde acontece assalto e homicídio, porque a rua é pública. Não existe como um órgão de segurança pública trabalhar dentro de um estádio, que é um espaço privado onde se cobra ingresso”. Conforme o comandante, os recursos arrecadados com a prestação do serviço nos estádios seriam investidos na corporação.

No outro lado da polêmica, o presidente da FGF afirma que a segurança é responsabilidade da Brigada. “Futebol é ato público, é uma das principais formas de lazer da população”, justifica.

A Federação discutirá o assunto com os clubes na sexta-feira, e na próxima segunda deve apresentar uma proposta ao governo estadual. Conforme o presidente da entidade, uma das possibilidades é que os times façam doações de equipamentos para a BM côo contrapartida pelo trabalho. O comando geral da corporação, ainda irredutível, não admite a possibilidade de aceitar a proposta.

O promotor de Direitos Humanos, Renoir Cunha, acompanhou a reunião e afirma que vê com preocupação a possibilidade de não haver consenso. “Se houver algum problema, a polícia civil terá que apurar a responsabilidade criminal. Mas a lei estabelece que a segurança dentro dos estádios deve ser paga, e a lei precisa ser cumprida”.

Opinião:

Um clube que tem condições de manter um jogador de futebol, profissionais para os quais são pagos os maiores salários do país, um clube que cobra, pelo menos, R$ 15 reais de cada torcedor (e consegue encher um estádio com 50 mil pessoas), tem sim recursos para bancar a segurança dos freqüentadores dos jogos. Ainda: por mais que seja evento com grande aglomerado de pessoas, é evento privado. Senão vamos todos fazer festas, cobrar ingresso e chamar a polícia militar para fazer a segurança.

sábado, 25 de agosto de 2007

Segurança (Pública) e Agronegócio (Privado)

A Trigésima Edição da Expointer que começou neste sábado, será por uma semana o centro das atenções no Rio Grande do Sul. Pela expressividade do evento, não são apenas agricultores, pecuaristas e empresários ligados ao agronegócio que migram para Esteio. O poder público também marca presença. Entre eles, a segurança pública, que marcará presença através da Polícia Civil, Instituto Geral de Perícias e Brigada Militar, pelos 141 hectares do Parque.

Segundo o comando da BM, serão 250 policiais atuando a cavalo, a pé e com motocicletas 24 horas, incluindo Batalhão de Operações Especiais (BOE) e o grupamento aéreo. Uma forma de mostrar as competências e a capacidade dos responsáveis pela segurança pública do Rio Grande do Sul neste que é considerado o maior evento de agrobusiness da América Latina.

Chama-se atenção para estes dados tendo em vista o seguinte fato: a polícia está, invariavelmente, ao lado do agronegócio no Rio Grande do Sul. Por questões de lei, determinação judicial e ordem pública.

No último 11 de agosto, ruralistas programam um protesto em defesa da propriedade privada. O local da manifestação: Granja Nenê, em Nova Santa Rita. A propriedade é objeto de ambição do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que alegam que a propriedade é um latifúndio improdutivo. Ao lado da fazenda existe um acampamento do MST. No dia da manifestação, um pelotão com homens do 9º Batalhão da Polícia Militar se desloca de Porto Alegre a Nova Santa Rita para garantir a tranqüilidade na manifestação e impedir reação por parte dos sem-terra. Enquanto isso, a 200 metros de distância dos integrantes do MST, que bloqueavam o principal acesso a Granja Nenê, o sub-comandante geral da BM, Coronel Paulo Roberto Mendes, dita as ordens: “A gente vai tirar eles de lá”. Para quem visualizava a cena, o sentimento era de tensão: sem-terra com paus às margens de uma estrada gritavam xingamentos a fazendeiros que passavam de carro rumo a fazenda. No céu, um avião ximango e um helicóptero do grupamento aéreo da BM. Em terra, escudos, capacetes e identificações do BOE.

Nesse dia não houve qualquer reação violenta, nem por parte dos fazendeiros (liderados pela Farsul) nem por parte do MST. Cinco dias antes, em Pedro Osório, no sul do Estado, mais de 20 pessoas ficaram feridas num confronto entre ruralistas, sem-terra e polícia militar.

A Ouvidoria da Brigada Militar apura denúncias de abuso de autoridade por parte de policiais no município. O comandante geral da corporação, Coronel Nilson Bueno, afirma que os homens utilizaram a força dentro da legalidade para manter a ordem pública.

Outro caso notório que envolve segurança pública e agronegócio: Fazenda Coqueiros. A propriedade da família Guerra, localizada em Coqueiros do Sul, no norte do Estado, é alvo constantemente de ações do MST. Abigeato, furto, danos à propriedade são alguns dos crimes que constam na delegacia de Carazinho, vizinha a Coqueiros do Sul. Inclusive alguns integrantes já foram indiciados por esses casos em inquéritos da polícia civil. Nos momentos de maior tensão, em que os sem-terra invadem a área (foram cerca de 10 invasões em três anos), o comando regional da Brigada Militar desloca efetivos com mais de cem homens das regiões de Passo Fundo e Santa Maria para garantir a reintegração de posse. Uma vistoria feita na fazenda atestou a produtividade da área, que ainda abriga uma reserva de mata nativa numa região de 200 hectares. Por ser alvo de contantes ataques, as terras não podem ser novamente vistoriadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e, por isso, fica inviabilizada a desapropriação

Com o deslocamento de efetivo da BM, alguns locais ficam descobertos de policiamento ostensivo. Os custos dessas operações não são divulgados pelo comando da Brigada.

O que diz o MST: a polícia é mandada pelos fazendeiros e é somente ao lado deles que atua.

O que diz a Brigada Militar: a Polícia precisa garantir a ordem pública e invasão de áreas é crime, precisa ser combatida.

O assunto toca em questões ideológicas, aspectos subjetivos. Os fatos estão aí.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Por trás das grades. E buscando o que há por trás do que acontece atrás delas.
É pra ser um blog sobre polícia. Mas também sobre todos os assuntos em que ela se envolve. Política, educação, esporte. Se a Polícia Civil investiga, estaremos lá. Se a Polícia Federal vai atrás, vamos também.
Não espere notícias felizes, mas pode esperar boas notícias. E bons comentários sobre elas. Desde a lei seca até o Ubirajara Macalão, passando pelas confusões dos protestos. E opine também sobre a Segurança Pública.
Não vamos deixar que enjaulem nossas idéias!