terça-feira, 28 de agosto de 2007

Bira e a fraude dos selos

A Polícia Federal deve ouvir, entre hoje e amanhã, dez depoimentos sobre a fraude dos selos da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. Pelo menos oito dos dez depoentes são assessores de deputados. A PF chegou até os nomes através do rastreamento das 68 mil ligações efetuadas por Ubirajara Macalão, principal acusado na fraude descoberta há quase dois meses, no último ano. Alguns nomes foram citados por Macalão em seu último depoimento à Polícia.

No início de julho, a Assembléia Legislativa abriu uma sindicância para investigar um desvio de três milhões de reais de seus cofres. O então diretor administrativo da casa, Ubirajara Macalão, foi o principal acusado da autoria do crime. O Tribunal de Contas do Estado e a Polícia Federal também se envolveram no caso, até agora sem solução. O que me impressiona não é o valor do desvio.

As cartas da Assembléia são enviadas em envelope timbrado. Cada deputado tem sua cota de postagens mensal. Nenhuma delas precisa de selo para chegar até nossas casas. Basta lembrar que quando recebemos aqueles boletins mensais dos deputados eles vêm apenas com uma etiqueta, que indica onde deve ser entregue. A própria gráfica da Assembléia os imprime e distribui.

Os três milhões - e uns quebrados - foram para onde? Em selos. Mas pra que selos? Sim, essa é a pegunta que me faço até agora. E ao mesmo tempo em que acho absurdo alguém ter comprado três milhões de reais em selos sem que ninguém percebesse, me impressiona a genialidade de Macalão. Selos. Algo tão simples, tão pequeninho, tão insignificante. Ou vai dizer que quando você sai de casa pensa "vou comprar selos. não vivo sem eles"?

O fato é que Macalão, mesmo genial, não pode ter agido sozinho. E não deve, tampouco, ter levado pouco tempo nesse plano. Acredito eu, que essas compras venham acontecendo há, mais ou menos sete anos. Tempo suficiente para que Macalão construísse sua casa na praia. A mesma onde foram encontrados mais de 200 mil selos, enterrados no pátio.

Seguem as investigações da Polícia Federal. A Assembléia deve abrir uma nova sindicância. Mais nomes devem aparecer. E toda aquela novela de CPI. Enquanto isso, o TCE diz apenas que vai exigir que o dinheiro desviado seja integralmente devolvido aos cofres públicos. Eu duvido que alguém devolva...

Bira - como eu prefiro chamar o brilhante ex-diretor administrativo da Assembléia - já tentou até se matar. A última vez que a Polícia Federal o pegou, Bira estava internado na Pinel. Deve ficar pensando o que ele fez para que sua substituta o delatasse. E eu aposto que ele vai achar alguma saída genial para essa situação.

2 comentários:

Natália Pianegonda disse...

E Bira, com metade na nossa formação educacional, ganhava um salário maior que o dos próprios deputados. E já disse até que era policial federal.

Clarice Gontarski Esperança disse...

Quem mais pode estar envolvido? Qual o caminho que estas compras fazem, burocraticamente? De onde sai a verba? Quem autoriza a dotação? Por que este negócio estourou agora?