sábado, 25 de agosto de 2007

Segurança (Pública) e Agronegócio (Privado)

A Trigésima Edição da Expointer que começou neste sábado, será por uma semana o centro das atenções no Rio Grande do Sul. Pela expressividade do evento, não são apenas agricultores, pecuaristas e empresários ligados ao agronegócio que migram para Esteio. O poder público também marca presença. Entre eles, a segurança pública, que marcará presença através da Polícia Civil, Instituto Geral de Perícias e Brigada Militar, pelos 141 hectares do Parque.

Segundo o comando da BM, serão 250 policiais atuando a cavalo, a pé e com motocicletas 24 horas, incluindo Batalhão de Operações Especiais (BOE) e o grupamento aéreo. Uma forma de mostrar as competências e a capacidade dos responsáveis pela segurança pública do Rio Grande do Sul neste que é considerado o maior evento de agrobusiness da América Latina.

Chama-se atenção para estes dados tendo em vista o seguinte fato: a polícia está, invariavelmente, ao lado do agronegócio no Rio Grande do Sul. Por questões de lei, determinação judicial e ordem pública.

No último 11 de agosto, ruralistas programam um protesto em defesa da propriedade privada. O local da manifestação: Granja Nenê, em Nova Santa Rita. A propriedade é objeto de ambição do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que alegam que a propriedade é um latifúndio improdutivo. Ao lado da fazenda existe um acampamento do MST. No dia da manifestação, um pelotão com homens do 9º Batalhão da Polícia Militar se desloca de Porto Alegre a Nova Santa Rita para garantir a tranqüilidade na manifestação e impedir reação por parte dos sem-terra. Enquanto isso, a 200 metros de distância dos integrantes do MST, que bloqueavam o principal acesso a Granja Nenê, o sub-comandante geral da BM, Coronel Paulo Roberto Mendes, dita as ordens: “A gente vai tirar eles de lá”. Para quem visualizava a cena, o sentimento era de tensão: sem-terra com paus às margens de uma estrada gritavam xingamentos a fazendeiros que passavam de carro rumo a fazenda. No céu, um avião ximango e um helicóptero do grupamento aéreo da BM. Em terra, escudos, capacetes e identificações do BOE.

Nesse dia não houve qualquer reação violenta, nem por parte dos fazendeiros (liderados pela Farsul) nem por parte do MST. Cinco dias antes, em Pedro Osório, no sul do Estado, mais de 20 pessoas ficaram feridas num confronto entre ruralistas, sem-terra e polícia militar.

A Ouvidoria da Brigada Militar apura denúncias de abuso de autoridade por parte de policiais no município. O comandante geral da corporação, Coronel Nilson Bueno, afirma que os homens utilizaram a força dentro da legalidade para manter a ordem pública.

Outro caso notório que envolve segurança pública e agronegócio: Fazenda Coqueiros. A propriedade da família Guerra, localizada em Coqueiros do Sul, no norte do Estado, é alvo constantemente de ações do MST. Abigeato, furto, danos à propriedade são alguns dos crimes que constam na delegacia de Carazinho, vizinha a Coqueiros do Sul. Inclusive alguns integrantes já foram indiciados por esses casos em inquéritos da polícia civil. Nos momentos de maior tensão, em que os sem-terra invadem a área (foram cerca de 10 invasões em três anos), o comando regional da Brigada Militar desloca efetivos com mais de cem homens das regiões de Passo Fundo e Santa Maria para garantir a reintegração de posse. Uma vistoria feita na fazenda atestou a produtividade da área, que ainda abriga uma reserva de mata nativa numa região de 200 hectares. Por ser alvo de contantes ataques, as terras não podem ser novamente vistoriadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e, por isso, fica inviabilizada a desapropriação

Com o deslocamento de efetivo da BM, alguns locais ficam descobertos de policiamento ostensivo. Os custos dessas operações não são divulgados pelo comando da Brigada.

O que diz o MST: a polícia é mandada pelos fazendeiros e é somente ao lado deles que atua.

O que diz a Brigada Militar: a Polícia precisa garantir a ordem pública e invasão de áreas é crime, precisa ser combatida.

O assunto toca em questões ideológicas, aspectos subjetivos. Os fatos estão aí.

4 comentários:

Débora disse...

A verdade é que, como muitos outros serviços públicos, o policiamento não funciona de igual maneira para todos. E seria utopia pensar que um dia vai funcionar...

Essa questão da atuação da polícia pública em eventos privados tem sido exposta tb em assuntos mais banais, como o futebol. Deu um bafafá semana passada durante o gre-nal junior...

Independente do fundo ideológico, com certeza é um caso a se pensar com seriedade.

Eu já disse isso, mas enfim... botei fé nesse blog! =) ehuehe

::Pensamentos Efêmeros:: disse...

Ah, saco, eu ia comentar sobre o policiamento nos estádios também...

Cris Rodrigues disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cris Rodrigues disse...

E a polícia é elogiada pela imprensa. Alguém aí vê na RBS ou em qualquer outro canal uma matéria que trate os proprietários e os sem-terra da mesma forma?