quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Mãe mata bebê e abandona corpo em lixão

Hoje cheguei na redação mais cedo que o habitual. Logo na chegada, minha colega produtora me diz "dá uma olhada nisso aqui. acho que pode valer pra tarde". Peguei o Diário de Canoas, li a manchete. Algo que se assemelhava a "mãe mata criança e abandona corpo em lixão". De pronto, fiquei apavorada. Abri o jornal e li a matéria. Em poucas palavras dizia o seguinte: uma mulher de 23 anos, que já tem três filhos, fez um parto sozinha no banheiro de casa, sufocou uma criança durante trinta minutos com um travesseiro, colocou o corpo já sem vida em uma sacola de plástico. Isso no dia 17 de agosto. Por volta do meio-dia, ao perceber que o bebê estava roxo (nas palavras do Diário de Canoas), o colocou em um saco preto de lixo e deixou na frente de casa, já que sabia que o lixeiro passaria por lá em algumas horas. O motivo: a menina - sim, com 23 anos - tinha medo que a mãe a colocasse para fora de casa, já que ela tem três filhos e o mais velho tem quatro anos.
Apavorada com a história, ligo para a 3ª DP de Canoas, ainda tentando digerir tanta informação. O delegado Marcínio Tavares, titular da 3ª DP, não estava na delegacia no momento. Pedi, então, alguém da investigação. Depois de ouvir uma musica enjoada por uns 3 minutos, atende o investigador Leandro. Expliquei a situação, da maneira menos cruel que consegui, e pedi alguns detalhes da investigação. Como estão as buscas? Qual a previsão de que se encontre o corpo? A acusada vai ser indiciada?
Para a maioria das perguntas a resposta foi "isso, só com o delegado". Agradeci as informações e desliguei. Recorri a agenda da produção e descobri o celular do delegado, que estava em uma reunião no Palácio da Polícia. Ele me atendeu da maneira menos cordial possível. Explicou que a acusada tinha confessado o crime, que tinah dado as explicações que encontrei no jornal e que a ocorrência só tinha sido registrado ontem, dia 28, depois de 11 dias do acontecido. E também me disse que as buscas tinham sido encerradas no dia anterior. A última pergunta: "ela vai ser indiciada?". Sim, com certeza. Eu, meio tonta com a quantidade de novas informações, ignorei o fato de que as buscas tinham sido encerradas exatamente no dia em que começaram.
Desliguei o telefone, liguei novamente para a DP. Consegui o telefone da mãe da menina, com quem conversei demoradamente sobre o caso. Embora a senhora tenha começado a chorar desesperadamente e tenha me deixado sem saber o que fazer, me disse, entre outras coisas, que a filha estava em casa e completamente surtada.
Depois de tantas ligações parei para pensar onde estava minha matéria no meio disso tudo. Além da história triste, da família desestruturada da periferia e de toda a questão socio-antropólogica envolvida no fato, duas coisas me chamaram a atençao: primeiro, como uma menina faz um parto sozinha, mata uma criança e continua cuidando de outras três? Segundo, como a polícia vai indiciar alguém sem a prova do crime, no caso o corpo? Afinal, mesmo com a confissão, diante da justiça não há crime sem corpo.
O delegado apenas soube dizer: a cada dia, 500 toneladas de lixo são depositadas no aterro sanitário de Canoas. Levando em consideração que são 11 dias, cerca de 6 mil toneladas já foram colocadas sobre o que foi, um dia, o corpo do bebê, um menino. Impossível, revirar toneladas de lixo procurando um corpo mínimo. Mas, ainda assim, ele insiste no indiciamento. Seis anos de prisão seria a pena pelo infanticídio.
Não tenho nenhuma solução sobre o caso. Tenho apenas a minha opinião e o descontentamento com meu chefe, que não quis investir na pauta, mesmo com a possibilidade de ouvir o Ministério Público e o Comando Geral sobre o fato de o titular da 3ª DP de Canoas ignorar sua responsabilidade com um simples "se não encontrarem o corpo, não é problema meu".

3 comentários:

Natália Pianegonda disse...

Falando em barbaridades?
Eu não vou comparar pessoas com animais, mas o que foi aquela história de Tavares?

Algum insensível e inabilitado ser para a sociedade matou um cavalo, tirou o couro, colocou um saco na cabeça do animal, cortou três patas.

O que se faz em situações como essas? O que o bebê, que foi privado do direito à vida, fez pra'quela mulher? Quer dizer, quem foi o culpado pelo que foi "tragédia" na vida dela? E com certeza o cavalo deve ter feito uim grande mal pra quem fez aquilo com o pobre animal.

E sabe o que mais me chama atenção nessa história toda? Que a história do cavalo parece comover mais que a história com o bebê.

Porque a crueldade com o ser humano já se tornou tão tão corriqueira, que qualquer novo crime se torna número. Porque números sempre parecem ser indicativos de realidade. E que a promotoria de Tavares e a delegacia responsável, horrorizadas (sentimento expressado pelos seus representantes) vão fazer tudo pra descobrir quem mal tratou o cavalo. E o bebê?

Natália Pianegonda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Meu Deus como pode um ser humano ter coração para matar alguém,ainda mais um anjo indefeso..O que esta acontecendo nesse mundo meu Deus....essa mulher,uma pessoa sem escrúpulo,uma desgraçada...que nao merece a morte..mais merece sofrer tudo em vida..sofrer as piores coisas,ela merece....sinto muito..mais a alma e a vida dessa coitada ja esta no destino de satanas...