Hoje cheguei na redação mais cedo que o habitual. Logo na chegada, minha colega produtora me diz "dá uma olhada nisso aqui. acho que pode valer pra tarde". Peguei o Diário de Canoas, li a manchete. Algo que se assemelhava a "mãe mata criança e abandona corpo em lixão". De pronto, fiquei apavorada. Abri o jornal e li a matéria. Em poucas palavras dizia o seguinte: uma mulher de 23 anos, que já tem três filhos, fez um parto sozinha no banheiro de casa, sufocou uma criança durante trinta minutos com um travesseiro, colocou o corpo já sem vida em uma sacola de plástico. Isso no dia 17 de agosto. Por volta do meio-dia, ao perceber que o bebê estava roxo (nas palavras do Diário de Canoas), o colocou em um saco preto de lixo e deixou na frente de casa, já que sabia que o lixeiro passaria por lá em algumas horas. O motivo: a menina - sim, com 23 anos - tinha medo que a mãe a colocasse para fora de casa, já que ela tem três filhos e o mais velho tem quatro anos.
Apavorada com a história, ligo para a 3ª DP de Canoas, ainda tentando digerir tanta informação. O delegado Marcínio Tavares, titular da 3ª DP, não estava na delegacia no momento. Pedi, então, alguém da investigação. Depois de ouvir uma musica enjoada por uns 3 minutos, atende o investigador Leandro. Expliquei a situação, da maneira menos cruel que consegui, e pedi alguns detalhes da investigação. Como estão as buscas? Qual a previsão de que se encontre o corpo? A acusada vai ser indiciada?
Para a maioria das perguntas a resposta foi "isso, só com o delegado". Agradeci as informações e desliguei. Recorri a agenda da produção e descobri o celular do delegado, que estava em uma reunião no Palácio da Polícia. Ele me atendeu da maneira menos cordial possível. Explicou que a acusada tinha confessado o crime, que tinah dado as explicações que encontrei no jornal e que a ocorrência só tinha sido registrado ontem, dia 28, depois de 11 dias do acontecido. E também me disse que as buscas tinham sido encerradas no dia anterior. A última pergunta: "ela vai ser indiciada?". Sim, com certeza. Eu, meio tonta com a quantidade de novas informações, ignorei o fato de que as buscas tinham sido encerradas exatamente no dia em que começaram.
Desliguei o telefone, liguei novamente para a DP. Consegui o telefone da mãe da menina, com quem conversei demoradamente sobre o caso. Embora a senhora tenha começado a chorar desesperadamente e tenha me deixado sem saber o que fazer, me disse, entre outras coisas, que a filha estava em casa e completamente surtada.
Depois de tantas ligações parei para pensar onde estava minha matéria no meio disso tudo. Além da história triste, da família desestruturada da periferia e de toda a questão socio-antropólogica envolvida no fato, duas coisas me chamaram a atençao: primeiro, como uma menina faz um parto sozinha, mata uma criança e continua cuidando de outras três? Segundo, como a polícia vai indiciar alguém sem a prova do crime, no caso o corpo? Afinal, mesmo com a confissão, diante da justiça não há crime sem corpo.
O delegado apenas soube dizer: a cada dia, 500 toneladas de lixo são depositadas no aterro sanitário de Canoas. Levando em consideração que são 11 dias, cerca de 6 mil toneladas já foram colocadas sobre o que foi, um dia, o corpo do bebê, um menino. Impossível, revirar toneladas de lixo procurando um corpo mínimo. Mas, ainda assim, ele insiste no indiciamento. Seis anos de prisão seria a pena pelo infanticídio.
Não tenho nenhuma solução sobre o caso. Tenho apenas a minha opinião e o descontentamento com meu chefe, que não quis investir na pauta, mesmo com a possibilidade de ouvir o Ministério Público e o Comando Geral sobre o fato de o titular da 3ª DP de Canoas ignorar sua responsabilidade com um simples "se não encontrarem o corpo, não é problema meu".
quarta-feira, 29 de agosto de 2007
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3 comentários:
Falando em barbaridades?
Eu não vou comparar pessoas com animais, mas o que foi aquela história de Tavares?
Algum insensível e inabilitado ser para a sociedade matou um cavalo, tirou o couro, colocou um saco na cabeça do animal, cortou três patas.
O que se faz em situações como essas? O que o bebê, que foi privado do direito à vida, fez pra'quela mulher? Quer dizer, quem foi o culpado pelo que foi "tragédia" na vida dela? E com certeza o cavalo deve ter feito uim grande mal pra quem fez aquilo com o pobre animal.
E sabe o que mais me chama atenção nessa história toda? Que a história do cavalo parece comover mais que a história com o bebê.
Porque a crueldade com o ser humano já se tornou tão tão corriqueira, que qualquer novo crime se torna número. Porque números sempre parecem ser indicativos de realidade. E que a promotoria de Tavares e a delegacia responsável, horrorizadas (sentimento expressado pelos seus representantes) vão fazer tudo pra descobrir quem mal tratou o cavalo. E o bebê?
Meu Deus como pode um ser humano ter coração para matar alguém,ainda mais um anjo indefeso..O que esta acontecendo nesse mundo meu Deus....essa mulher,uma pessoa sem escrúpulo,uma desgraçada...que nao merece a morte..mais merece sofrer tudo em vida..sofrer as piores coisas,ela merece....sinto muito..mais a alma e a vida dessa coitada ja esta no destino de satanas...
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