sábado, 1 de setembro de 2007

A Segurança Pública ganhou na loteria. Uma nova Operação Tapa-Buraco

Na mesma semana em que a loteria pagava cerca de R$ 54 milhões a algum sortudo que acertasse as dezenas-da-garantia-do-futuro, o governo do Estado anunciou investimento de R$ 50 milhões para a segurança do Rio Grande do Sul.
A governadora Yeda Crusius e o Secretário de Segurança José Francisco Mallman chamaram uma coletiva no Palácio Piratini para a divulgação oficial dos valores. Sexta-feira, 31 de agosto, 11 horas da manhã. Detalhe: a coletiva foi marcada sem que os valores estivessem confirmados.
Repórteres de quase todos os veículos de Porto Alegre a postos na ante-sala do gabinete da chefe do executivo. 11h... 11h e 15min... 11h e 25min. Nada do anúncio. Repórteres revoltados e ansiosos. Uns tinham jornal ao meio-dia. Outros estavam com o jornal no ar. Não foi a primeira vez que o poder executivo deixa aquele bando de escravos dos fatos à espera. Quer dizer: horário marcado, horário cumprido. Porque a governadora não tem com a agenda o mesmo rigor que tem com o caixa do Estado?
Bom, 11h30 chega o Secretário e sua trupe composta pelo Comandante da Brigada, Cel. Nilson Bueno e pelo Chefe de Polícia, Pedro Rodrigues. Pede desculpas pelo atraso e diz que os números foram confirmados momentos antes.
Ok. Num rápido bate-papo ele volta a defender a Lei Seca e diz que aguarda proposta dos clubes de futebol sobre a questão do policiamento nos Estádios. Entra no gabinete.
Nesse meio tempo de atraso alguns repórteres tentaram até propor o que um dos mais experientes, Gustavo, chamou de "levante histórico da imprensa". "Vamos embora", disse ele, "todos nós. Quero ver o que eles vão fazer. Depois divulgam o release e deu". Era uma boa mesmo. Uns poucos repórteres deram pra trás e o "levante histórico da imprensa" não aconteceu.
Repórteres à espera. 11h e 57min somos chamados.
As autoridades anunciaram a liberação da verba oriunda do Programa Nacional da Segurança com Cidadania (Pronasci – já chamado PAC da Segurança). A verba virá para a construção de dois presídios, sendo um para jovens de 18 a 24 anos (ainda sem local definido) e outro de segurança máxima em São Leopoldo. O restante vem para aparelhamento das polícias, investimentos em estrutura e inteligência, contratação e formação de pessoal, além de 30 viaturas utilizadas nos jogos Pan-Americanos, doadas pelo governo federal. A contrapartida do Estado nessa verba toda ficou em pouco mais de R$ 4,5 milhões, valor abaixo do que se costuma estabelecer.
Tudo muito bom, é uma grana alta para ser aplicada em todo o Estado.
Mas ela será liberada somente se o Estado cumprir com sua contrapartida, o que a governadora garantiu que acontecerá (veja o caso Baltazar de Oliveira Garcia, parada por 11 meses pela falta de cumprimento do pagamento dos valores por parte do Rio Grande do Sul). Acreditamos. Ela foi determinada na resposta.
Mas o que mais incomoda nisso tudo é a dúvida de como e quando vamos ver a aplicação desse dinheiro. E saber que, por mais que sejam necessários esses investimentos – eu jamais ousaria negar – é que isso tudo funciona (numa analogia simplista) como a famigerada (e frustrada) Operação Tapa-Buraco do governo federal. Esconde alguns problemas, mas com o tempo eles voltam a aparecer.
Quer dizer: em breve os aparelhos ficarão velhos, os servidores da ativa se tornarão inativos, as estruturas ficarão defasadas e os presídios superlotados.
É preciso uma ação mais ampla. Atacar o problema na base, na raiz, onde ele começa a acontecer. Mas parece que as pessoas têm preguiça de pensar nisso, de se preocupar. Lógico! Porque os resultados não seriam imediatos, e sem resultados imediatos, para que as pessoas vejam (viaturas nas ruas, presídios sendo construídos e fotos para o jornal inaugurando postos e entregando equipamentos) ninguém é reeleito, ninguém conquista apoio popular. E o que é mais importante? O apoio, claro.
Os recursos são importantes sim. Porém eu fico me perguntando se eles vão se limitar a Operação Tapa-Buraco da Segurança ou se vão ir mais adiante. E qual será nosso papel nisso?
...
Enquanto isso, na saída da coletiva, em frente ao palácio, eu e dois repórteres, Jocimar e Zé, conversávamos com o Secretário sobre a Lei Seca. Numa brincadeira, um deles disse: "em festa só quentão, então, secretário?". Nisso está passando uma senhora. "Nem quentão, meu filho. Depois eles saem todos loucos por aí e dá essas mortes todas. Tem que proibir mesmo, e logo". Mallman recém havia saído do local. E ela foi atrás. "Tem que proibir logo", voltou a afirmar. O Secretário sorriu, colocou a mão no ombro da senhora, olhou para o Zé e disse: "Viu? Ta vendo?". Ela serviu para reforçar a tese que 60% da população é favorável à restrição à venda de bebidas alcoólicas.

3 comentários:

Paula disse...

Tá pegando o jeito do texto opinativo, hein. Realmente, quero ver um governo anunciando medidas a longo prazo para variar. Quanto ao apoio, hoje à tarde conversei com amigos que defendem a lei seca. Gente nova, que ouviu e comprou esses dados chutados pelo secretário. E eu achando que a população também estava achando isso uma piada. Tá, não que eles sejam uma amostra considerável e confiável, mas ainda assim...

Alexandre Haubrich disse...

Nati: parabéns pela humildade em reconhecer o que tu tinha dificuldade em fazer. Reconhecendo e tentando melhorar, agora teus textos opinativos são dos que têm opiniões mais fortes e bem embasadas dentre os blogs da turma.
Parabéns mesmo.

E o levante da imprensa ia ser o ouro.

Cris Rodrigues disse...

muito bom, nati. muito bom mesmo. tu tá boa nisso, hein.
teus textos, apesar de compridos pra um blog, são bem bons de ler.
aliás, falando em textos compridos, a gente tinha q deixar nos comentários o q achou do blog de vcs. eu ia dizer q no início ele não era opinativo, o q todo mundo já disse, mas q agora melhorou um monte. no teu primeiro post, eu comentei q faltava opinião, e q eu sabia q tu tinha, era só botar. e agora q ela tá aparecendo tá ótimo.
eu acho q blog pede textos curtos, e os de vcs tão bem compridos, mas isso tb não é consenso.
então, continua assim ;)