segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Dilemas criminais. Dilemas morais.

A justiça determinou a progressão de pena para o assaltante de bancos Cláudio Adriano Ribeiro, o "Papagaio". Ele já cumpriu um terço da pena, fixada em 36 anos. Foi o primeiro e único assaltante na história a fugir da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas. E agora vai para o regime semi-aberto.

A promotoria, a polícia civil e alguns especialistas criticam veementemente a lei brasileira que permite que assaltantes, considerados perigosos, sejam postos numa penitenciária que não possui o mesmo rigor na segurança e torna a fuga um jogo de criança.

Numa entrevista que concedeu ao jornalista Farid Germano Filho, Papagaio disse que já cumpriu o que tinha que cumprir, que possuía apenas o desejo de reconstruir a vida e ficar perto dos filhos. Falou também que quando fugiu da Penitenciária Estadual do Jacuí, em agosto do ano passado, após ficar detido por 97 dias no semi-aberto, tomou tal decisão porque soube, através da advogada, que o Ministério Público havia conseguido uma decisão que o colocaria de volta atrás das grades da PASC. "Foi uma atitude desesperada, eu queria ficar perto dos meus filhos", disse ele. "E tu podes ver, não cometi nenhum crime nesse período. Única coisa que eu quero é cuidas dos meus negócios", complementa. Sem adicionar, claro, que seus negócios (ele é dono de imóveis e dizem que de algumas lojas e restaurantes) ele construiu através do crime. Roubando bancos.

Nesta segunda-feira a advogada do criminoso, Maria Helena Viegas, comemorou a entrega de uma intimação da justiça a Superintendência de Serviços Penitenciários, estabelecendo 24 horas para que ele seja transferido. Nesta terça ele voltará para o mesmo albergue de onde fugiu em agosto do ano passado. A advogada complementou: "vamos ver se agora deixam o rapaz cumprir a pena dele em paz".

Quer dizer: ele afirmou com firmeza e até uma certa dose de sinceridade que tinha interesse em continuar a vida dele longe do crime, que tudo que queria era cumprir a pena em paz e que o Ministério Público largasse do seu pé.

Todo mundo sabe que o sistema penitenciário do país não oferece condições ideais para se afirmar que um preso pode ser ressocializado. E se sabe, de outro modo, que se a sociedade não der oportunidade, aí sim que ele nunca poderá ser inserido novamente na sociedade.

Como lidar com esse dilema moral, que diz que se deve dar uma oportunidade, e ter como contrapartida a desconfiança, nutrida por uma série de eventos negativos presentes na história do cidadão em questão e de tantos outros que, ao mesmo tempo que esperam uma oportunidade para tomar jeito na vida, podem estar esperando uma oportunidade para uma nova jogada criminosa que garanta dinheiro fácil e em grande quantidade?

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