domingo, 2 de setembro de 2007

Por que a humanidade faz essas coisas?

Fui surpreendida pela pergunta: Por que a humanidade faz essas coisas?
Partiu da minha mãe, após dois minutos de silêncio no carro. Geralmente as perguntas têm alguma relação com o assunto anterior ou com qualquer fato que tenha se passado diante dos olhos das duas pessoas que travam o diálogo. Não nesse caso. Do nada, a dúvida.
"Como assim? Isso o quê?", devolvi. "Essas coisas. Assalto, guerra, morte. Precisa disso tudo, hein?".
Ao mesmo tempo visualizei algo como num filme: começa com um close na minha mãe fazendo a pergunta e com aquele olhar meio vazio dela quando pensa longe; e vai abrindo, pega a cidade, pega o Estado, o Brasil, o continente e o planeta. Porque eu vi como a pergunta, a raiva e minha mãe são pequenas diante dos fatos. Algo do tipo: sinal de impotência.
Mas senti uma ponta de ciúmes da indignação, sem motivo explícito, manifestada por ela. É verdade. Por quê? E por que essa indignação parece algo tão cômico? A raiva desses problemas já se tornou tão banal, corriqueiro e despercebido quanto desejo de paz no mundo em ano novo. Algo como sonho de miss.
Então parei e pensei como a violência já está tão intrínseca ao nosso dia-a-dia que ela também se configura simplesmente como mais um fato. A ser noticiado. A ser lido.
Na última sexta, um policial rodoviário foi morto numa tentativa de assalto. Neste sábado, um segurança foi baleado numa casa noturna. Os dois crimes aconteceram na zona norte de Porto Alegre. Nesse mesmo final de semana outros dois PMs do 21º Batalhão da Polícia Militar, que também atende a zona norte, foram baleados ao atender uma ocorrência.
Fica aquele impasse. Aprofundar a história? Incomodar a família? Será sensacionalismo? Mas cada morte dessas é uma história inteira jogada para debaixo da terra ou perdida no fogo. Fica somente em algumas memórias. Quer dizer, o fato de estarmos tão habituados com esses crimes faz com que fatos assim sejam simplesmente mais um fato assim. Simplesmente mais um dado pras estatísticas. Números números números. x mortes em y dias. Reforço do policiamento com z homens.
Morreu em bairro pobre, nem precisa noticiar. Queima de arquivo, dívida com tráfico. Se é de classe média, vira notícia de capa. E se é policial, então, se vê uma agilidade impressionante na identificação e detenção dos suspeitos. Que, apesar de serem apenas suspeitos, são apresentados em coletivas de imprensa como animais, diante de enormes logotipos dos órgãos de segurança pública. Têm os nomes divulgados, mesmo sem ter a culpa confirmada. Onde estão os limites, tanto dos jornalistas quando da própria polícia em expor as "presas" dessa forma?
Por outro lado, em que medida a prática de crimes é uma opção ou a única alternativa? Quantas pessoas que praticam esses atos possuem falhas de conduta e quantas são levadas por algum motivo para este mundo? Em quanto reduziria a violência se essas pessoas tivessem a tão famigerada OPORTUNIDADE?
Nada em específico motivou esse post. Não há aqui muitas informações. Apenas constatações. Num rápido instante de influência na corrente da indignação.

4 comentários:

Alexandre Haubrich disse...

Eu ia completar o comentário que fiz no outro post dizendo que agora faltavam os textos serem mais curtos.
E sim, podem ser mais curtos. Mas esse, em especial, é daqueles no tamanho certo, que a gente nem pensa em parar de ler. Muito bom, de novo. E muito pertinente. O problema dos problemas é que a gente se acostuma com eles.

Alexandre Lucchese disse...

eh verdade, esse assunto naum se esgota nunca. legal a história dos blogs por oportunizar isso, falar de alguma coisa pensada sem estar obrigatoriamente ligada a um fato. tem mais é q por na mesa essas discussões.
legal o post, a blog as vezes fica denso pelo factual pesado, essa foi uma boa pausa pra respirar.

Paula disse...

Não vejo problemas nos textos longos... E nem na falta do factual, como disse o Ale, essas discussões merecem espaço, mesmo que sem um pano de fundo escancarado.

Bruna Riboldi disse...

As idéias não têm hora para aparecer. Indignação também não.
São raros os momentos em que realmente nos damos conta do que acontece em volta.
E quando a ficha cai, inúmeras vezes a indignação vem acompanhada do desânimo.

Não vamos nos deixar vencer pela banalização dos horrores que vemos por aí.